ADDIE: O Modelo Mais Utilizado no Design Instrucional

Saiba como as 5 fases do Modelo ADDIE funcionam na prática, e como utilizá-las em seu processo de criação de cursos on-line.

Desenvolver um e-Learning eficaz pode não ser uma tarefa simples, por isso, existem alguns processos no Design Instrucional que te ajudam a criar melhores soluções de treinamento, de acordo com as necessidades do seu público-alvo. E é sobre um deles – o mais utilizado no mundo — que vamos falar neste artigo: o Modelo ADDIE.

Se você prefere assistir a aula, vá para Aula Aberta #04 Modelo ADDIE – Uma visão Geral

Talvez você já saiba, mas ADDIE é um acrônimo, e cada letra de seu nome se refere a uma das suas 5 fases: Análise, Design, Desenvolvimento, Implementação, e Evaluation — que traduzimos como “Avaliação”.

O modelo foi desenvolvido por psicólogos durante a 2.ª Guerra Mundial, e surgiu para solucionar um grande problema que o exército norte-americano estava enfrentando: treinar suas tropas a manusear as armas.

O Modelo ADDIE é um processo linear?

Apesar de algumas pessoas apontarem uma suposta linearidade como justificativa para não o utilizarem, um manual de desenvolvimento de treinamento da década 80, apresenta um diagrama do Modelo ADDIE que faz essa objeção “cair por terra”.

Mandala do Modelo ADDIE, ilustrando o artigo "ADDIE: O Modelo Mais Utilizado no Design Instrucional"
http://www.nwlink.com/~donclark/history_isd/addie.html

Na imagem anterior, você consegue ver as 4 primeiras fases sendo envolvidas por 2 processos de avaliação: um interno, que acontece entre cada uma das etapas, e um externo, que avalia o resultado depois que o treinamento já estiver no ar — tema que vamos abordar mais à frente.

Então, o que essa Mandala nos mostra afinal? Ela evidencia que o Modelo ADDIE é cíclico, ou seja, ele é alimentado, retroalimentado e observado durante todo o projeto.

Agora eu já sei o que é o Modelo ADDIE, mas quando devo utilizá-lo?

Outra grande objeção de algumas pessoas ao Modelo ADDIE é a de que ele não contempla o Levantamento de Necessidade de Treinamento (LNT).

Na Aula Aberta #04, me referi ao tema deste artigo como “Modelo ADDIE +”, justamente porque o diagnóstico não é uma fase do processo, mas é muito importante que ele seja feito.

Na prática, nós iniciamos o ADDIE apenas quando uma solução de treinamento é a melhor forma de atender a uma demanda, ou seja, o LNT é feito antes mesmo de iniciarmos a primeira etapa.

Mas afinal, o que são e como funcionam as 5 fases do processo?

O “A” de Análise: A coleta de Informações é a base para o sucesso do seu projeto

A Análise é a primeira fase do Modelo ADDIE e, resumidamente, consiste na coleta de informações.

É nesse momento que precisamos perguntar, ouvir e pesquisar (se for o caso) para planejar o melhor projeto possível.

O que precisa ser analisado? Não há uma ordem certa, mas estes são os principais elementos:

  • Conteúdo Bruto: analise o conteúdo enviado pelo cliente e entenda se ele é suficiente para o curso a ser desenvolvido. Avaliá-lo ajuda também a identificar o objetivo de aprendizagem e os formatos com os quais você pode trabalhar no Design.
  • Público-Alvo: conheça quem será impactado pela solução. Aqui é importante ir além das informações demográficas, porque elas podem generalizar seu público. Procure saber, por exemplo, qual é o “perfil digigráfico” dessas pessoas, e use ferramentas como o Mapa da Empatia para entendê-las.

“Perfis diferentes em um público-alvo. E agora?”

  • Objetivo de Desempenho: converse com o cliente e entenda quais são os indicadores que essa ação precisa atingir. O que as pessoas precisam estar aptas a fazer, não quando o curso acabar, mas quando elas voltarem à posição de trabalho?

Lembre-se: se o treinamento não impacta no negócio, ele não é relevante para a empresa. É claro que uma demanda pode surgir com o objetivo de cumprir a uma regulamentação, mas isso tem que ser exceção, e não regra.

Entenda a diferença entre “Objetivo de Desempenho” e “Objetivo de Aprendizagem”

  • Prazo e Orçamento: apesar de serem coisas diferentes, esses dois pontos estão muito ligados. É bastante comum que projetos surjam com o prazo “para ontem” e o orçamento “zero”.

    Diante disso, é importante que você calibre as expectativas com seu cliente. Não se esqueça que esse é um projeto de colaboração mútua. Então, faça o melhor que puder, mas com as condições que você tem disponíveis, tudo bem?

A Análise impacta todas as fases seguintes do Modelo ADDIE, por isso, é importantíssimo que ela seja feita com atenção.

Todos os dados coletados serão consolidados na Proposta de Treinamento, documento que marca o “encerramento” dessa etapa.

O “D” de Design: Deixe a imaginação fluir no esboço da solução de treinamento

A fase de Design talvez seja a mais conhecida pelo Designer Instrucional (DI). É aqui que vamos deixar a criatividade fluir e criar o esboço da solução de treinamento, embasados no que coletamos na etapa anterior.

  • Objetivo de Aprendizagem: você começou a olhar para esse ponto lá na análise de conteúdo, se lembra?

    Sabe quando tem uma engrenagem pequena entre outras duas, fazendo-as girar? Esse é o papel do Objetivo de Aprendizagem na transição para o Design.

    Isso significa que, antes de qualquer coisa, você precisa deixar muito claro quais são as expectativas de aprendizagem para esse curso.


Como elaborar um objetivo de aprendizagem usando a taxonomia de bloom

  • Roteiro/Storyboard: esse é momento de desenhar o rascunho da solução, ou seja, coloque aqui todas suas ideias sobre como pensa em abordar o conteúdo, por exemplo: “qual será a linguagem?”, “serão utilizados recursos como imagens, ilustrações, etc.?”.

  • Avaliação de Conhecimento: existem 3 tipos de avaliação que podem ser desenhadas aqui: a diagnóstica, a formativa, e a somativa.

    Sempre digo que um curso sem avaliação poderia ser um PDF enviado por e-mail, portanto, pelo menos a somativa precisa existir na sua solução.

Existe uma discussão sobre a ordem em que a avaliação e o roteiro são desenhados, mas não existe um certo ou errado quanto a isso. O mais comum, no entanto, é que a avaliação de conhecimento seja elaborada depois, porque assim você economiza tempo e reduz o retrabalho em casos de alteração no material.

  • Modelos de Desenvolvimento: há 2 tipos de desenvolvimento: o interno, onde o DI é responsável pelo desenvolvimento prático dos dois elementos anteriores, portanto, o custo é baixo.

    E o externo, em que um fornecedor é contratado para desenvolver algumas fases ou todo o projeto (inclusive o roteiro) — o custo será mais elevado, mas a solução pode ser graficamente mais interessante.

  • Validação: Por último, é o momento em que você, DI, deve sentar com todos os conteudistas envolvidos e discutir/validar os arquivos de roteiro e a avaliação de conhecimento.

    Aqui, tudo pode ser alterado: vocês podem incluir ou excluir textos, mudar expressões ou a ordem do conteúdo, por exemplo.


O ideal é que aconteçam até 2 rodadas de validação. Depois disso, com ambos os documentos aprovados, podemos seguir para o Desenvolvimento.

O “D” Desenvolvimento: Transformando o esboço em Solução de Treinamento

A fase de Desenvolvimento é quando nós vamos, efetivamente, produzir a solução desenhada.

Na prática, o DI só terá uma função real aqui quando o desenvolvimento for interno. Nesse caso, precisaremos de ferramentas de autoria para desenvolver nossas telas e, se houver orçamento, podemos contratar Assets (Recursos), tais como: imagens, ilustrações, templates, personagens, vídeos, etc.

Para os cursos desenvolvidos externamente, o fornecedor é quem cuidará de tudo isso e nos enviará o link com o curso produzido para que seja validado.

Nos 2 cenários, antes de seguir para a próxima fase, o DI é o responsável por garantir que o conteúdo final esteja condizente com o roteiro.

Curso aprovado? Agora, é hora de implementá-lo.

O “I” de Implementação:  Colocando o seu curso no ar

Depois de validar a etapa anterior, receberemos o arquivo SCORM do curso produzido. A fase de Implementação é quando fazemos o upload desse documento para a plataforma, e configuramos os parâmetros necessários.

Pode ser que exista uma equipe de suporte ao LMS na sua empresa. Nesse caso, eles, provavelmente, serão os responsáveis pelas 2 ações acima, ok?

Antes de liberar o curso ao público-alvo, precisamos testá-lo, e isso pode ser feito de 2 formas:

Turma Piloto (opcional): valida o curso no campo de ação, ou seja, com alunos reais. Assim, saberemos se todas as telas estão funcionando, se o conteúdo atende às expectativas e até qual é a carga horária real do treinamento.


Turma de Homologação (obrigatório): se optamos por não fazer uma turma piloto, devemos realizar testes em uma turma de homologação. Aqui, precisamos saber se o curso está conversando com o LMS e gerando os dados necessários (notas e conclusão, por exemplo), se não há nenhuma trava e a navegação está fluida etc.

O “E” de Evaluation (Avaliação): Descubra se os objetivos foram alcançados.

Na última fase do modelo, vamos avaliar o resultado do nosso projeto. Será que deu certo e os objetivos de desempenho e aprendizagem foram alcançados?

Apesar de o ADDIE ser cíclico, para uma efetiva avaliação de resultados, precisamos que o curso já esteja implementado há algum tempo, porque só assim teremos a base de dados necessária para fazer uma avaliação completa.

O que será avaliado, afinal? Índices de adesão e evasão, por exemplo. Se houve evasão, tentaremos entender o que causou essas desistências — imagine que um curso tem 40 telas e a maior parte das pessoas desistiram de continuar ao chegar na tela 10. Será que tem algo de errado ali?

É claro que essa é apenas a análise inicial. Existem 4 níveis de avaliação que precisam ser exploradas na etapa de Avaliação:

  • Avaliação de Reação: O que os alunos acharam sobre o curso? Daqui, podem surgir até novas necessidades de treinamento.

  • Avaliação de Conhecimento: Existe alguma questão com um percentual de acertos baixo? Isso pode acontecer por falhas de conteúdo ou até enunciados ambíguos que passaram despercebidos.

  • Avaliação de Transferência: O conhecimento foi aplicado no posto de trabalho? O curso gerou a mudança necessária?

  • Avaliação de Resultados: Qual foi o impacto que o treinamento trouxe para o negócio? Por exemplo, se era um curso de vendas, houve retorno financeiro com esse investimento?

    Não se esqueça de apresentar esses resultados ao cliente, porque eles evidenciam a relevância do projeto e do seu trabalho.

Gostou do artigo? Então, compartilhe esse post!

Quanto mais pessoas souberem utilizar o Modelo ADDIE, melhor o Design Instrucional será aplicado.

Você também pode conhecer um pouco mais sobre cada uma das fases aqui no Blog, e assinar a Newsletter para receber mais conteúdos como esse.

2 Comentários

  1. Diogo

    Obrigado por compartilhar seu conhecimento, Soani!!! Estou aprendendo muito com seu conteúdo.

    Responder
    • Soani Vargas

      Fico feliz, Diogo!
      Conte comigo!

      Responder

Trackbacks/Pingbacks

  1. Pré-briefing: como deve ser a preparação do Designer Instrucional | Soani Vargas - […] do processo de Design Instrucional utilizado (Modelo ADDIE, 6D’s, SAM Model, etc.), você precisa pensar e estruturar uma maneira…
  2. Processos de Design Instrucional: O que é e como pode te ajudar? | Soani Vargas - […] Para se aprofundar no Modelo ADDIE, leia o artigo “ADDIE: O modelo de Design Instrucional mais utilizado no mundo”.…

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

3 − três =